terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

NO CDC Cleuza Bueno: Titânico FC, uma tradição de 39 anos

I LOVE LAJE NO FOMENTO À CULTURA DA PERIFERIA

Sabadão, 11, à tarde, uma lua danada, e estamos no CDC Cleuza Bueno para assistir a partida amistosa entre o Titânico FC...

...e o Pingueiras, do município vizinho de São Lourenço da Serra.

Corria o primeiro tempo e as equipes ainda se conheciam, quando...

... um passe longo cruzou a extensão lateral do campo e encontrou o domínio seguro do ala Muca, no setor direito de ataque...

Foi amaciar e bater...

Arrojado disparo. 

O goleiro em voo não impediu a trajetória...

O repouso da bola na malha da gaiola...

EC Pingueiras de São Lourenço já pensando em bebemorar o gol do Muca...

Maior abafadão. Os jogadores tiveram tempo técnico pra se hidratarem...

Técnico ganha jogo? Literalmente, não. Mas uma boa conversa. Uma substituição bem feita. Mudança de posicionamento. 

E a essencial motivação pode fazer a diferença no placar. 

Veio o segundo tempo e o Titânico floriu...

Em jogada trabalhada, o camisa 8 Diego bate de chapa...

No contrapé do goleiro, rente à trave...

Estufada malha...

O coração apaixonado: 1 a 1...

E o Diego estava com a corda toda...

Dessa vez invadiu pela esquerda, se livrou do zagueiro e na saída do goleiro...

...deu aquele tapa malandro, em diagonal...

Tomando a bola o CEP certeiro...

Diego vibra e corre pro abraço. Titânico 2 a 1... 

A rapaziada titânica tomou conta do confronto e então foi a vez do Vitinho, também pela esquerda, acionar o pé direito e...

...chuá na malha da gaiola...

Em meu favor, tão belo o gol quanto belo ficou o registro.

Vitinho solta o grito, Titânico 3 a 1.

Pra fechar a goleada e tornar a tarde mais festiva, Junior entrou no jogo e logo deixou sua marca...

Também pela esquerda, ali foi o caminho da mina...

Goleirão chegou cobrindo o ângulo, mas o tiro saiu rasteiro...

...entre as pernas do arqueiro e foi morrer lenta no fundo do gol.

Fazer gol, alegria maior. 

Até a moça dentro do carro acompanhando o lance sorriu...

Papo com Richard

Richard, 52 anos, técnico do Titânico FC, quando o time saiu de campo perdendo, no intervalo, ele chamou atenção:

"Pessoal, vamos mudar a postura. É preciso adiantar a marcação. Não vamos deixar eles jogar. É preciso fazer a bola girar..."

Depois da vitória, comentou:

"O futebol de várzea envelheceu, mas ganhou nova estrutura com o gramado sintético.

Há, hoje, muitos atrativos que interessam ao jovem mais que o futebol de campo. Daí o enfraquecimento dos times varzeanos.

Aqui no Titânico não se paga jogador, como normalmente acontece por aí. Fazemos tudo por amor. Hoje, no elenco, vieram 17 jogadores. No anterior tinha 23."

Na vida, Richard é supervisor de logística.

Goleiro de posição tem no filho Bruno seu próprio reflexo ao vê-lo vestir a camisa 1 do Titânico FC.

Richard se despede contando um fato corriqueiro de sua vida em família:

"Futebol é minha paixão na vida, tanto que minha mulher até fala:

- La vai ele atrás da gorduchinha!"

Papo com Diego

O meia atacante Diego conta um pouco de sua experiência no futebol de várzea.

"Já joguei de goleiro quando faltou. Já joguei na zaga, lateral direito, mas o que gosto mesmo é essa,"

Perguntado sobre o sintético:

"Ah! no sintético você pode jogar a bola que for que ela vai corrê bonito!"

Pé, insiste: e num dia quente como o de hoje... o calor complica?

Diego - Bastante. Esquenta bastante... O pé fica queimando.Ás vezes já deu bolha. A borracha...

Pé - Dois golaços. E você joga sempre assim?

Diego - É... No ano passado fui vice artilheiro. E esse ano comecei bem. Já tenho 4. Minha grande paixão é o futebol e vai ser pro resto da vida.

Pé - E a emoção de fazer um gol na várzea?

Diego – É grande. Uma sensação indescritível. Com o campo lotado ou vazio, gol é gol!

Alai – Fora o futebol, o que você faz na vida?

Diego – Trabalho. Meu pai tem uma micro empresa...Uma metalúrgica e eu trabalho com ele. Tenho uma filha e sábado e domingo aqui é minha segunda casa. 

Papo com Popeye

Popeye está há 36 anos no time. Foi jogador e participou também dos Veteranos 35.

Hoje é um dos diretores do Titanico FC. Bom de papo! 

Interrompo tentando arrumar os números do placar. 

Importante saber a quantas anda o jogo, mas as alças estão quebradas e fica difícil informar o resultado.

Popeye relembra um fato especial:

“O dia que eu achei que teve guerra foi na final da Copa Rebote, no campo do Martinica . 

O jogo terminou empatado e o Galo Real do Jd Ângela perdeu a parada nos pênalti. 

A torcida invadiu o campo... quebraram o troféu, bateram no 
organizador da Copa, fizeram o maior rebuliço.

Porquinho conta a história pro senhor... Acho que foi em 2008"

Luiz Carlos Emiliano, 60 anos, conhecido como Porquinho, é o presidente do Titânico Futebol Clube, do Jardim Umarizal...

...que joga no CDC Cleuza Bueno, aos sábados à tarde, nas categorias masters, veteranos e esporte.

Varzeano nato, atuante nas laterais, ainda bate sua bola domingueira.

O Titânico foi fundado tricolor no dia 12 de agosto de 1978 pelo santista Porquinho e Epitácio Viana da Silva Barros.

A estrutura do CDC melhorou, mas lamenta a falta de vontade da molecada.

Daí, Porquinho começa a descortinar um mundo pra nós novo, e vamos escarafunchando velhos álbuns...

onde encontramos fotos e fotos...

...do bairro e do tempo que o campo era terrão e a paisagem em torno começando a se modificar...

Surge a memória dos barrancos pelados onde hoje subiram apinhados prédios;

 da lagoa que corria, hoje dominada pelo gramado sintético.

Porquinho confessa que o sol esquenta o carpete e se pudesse jogaria na terra, mas não tem como... 

Enquanto isso vale apontar  o troféu danificado (esq), aquele da Copa Rebote, e outros tantos que enfeitam a galeria.

Surpresa nossa. A sede do Titânico FC possui a riqueza de um patrimônio histórico.

É ter a sensação de quem percorre um acervo de museu...

e ao remover as pastas, dá-se de cara com matérias raras.  

Exemplo disso é o jornal Rola Bola, dos anos 90, em Campo Limpo.

Encontrado ali, surpreendeu o próprio editor Marco Pezão

Na periferia não é só água da chuva que corre pra criar o riozinho de enxurrada que, no velhos tempos...

...permitia a corrida de barquinhos de papel... Feito às pressas pra brincar enquanto ela durava!

a bica é uma raridade correndo sempre a refrescar os pés ou salvar quem joga da sede.

Como a enxurrada, a fonte traduz memória de outros tempos.

São águas passadas e presentes, lembranças guardadas em sua sede no CDC Cleuza Bueno.

Quem pensa que o saber se concentra nas escolas, ou em velhos recintos, se engana redondamente.

Descobrir fontes de pesquisa como fotos, periódicos extintos, e troféus...

É o que nos revela o projeto DO CAMPO LIMPO AO SINTÉTICO: POESIA SEM MISÉRIA!

 
O presidente Luiz Carlos, o Porquinho, entre amigos, saboreando a vitória do Titânico.

Curtindo a tarde varzeana o pessoal do RSB, Jd das Palmas.

Finalmente, o papo com Ivoneide (esq), esposa de Luiz Carlos, o Porquinho.

Mesmo preferindo atletismo ao futebol, foi ela a responsável por guardar as fotos e outros materiais esportivos encontrados na sede do Titânico. 

Valeu, Ivoneide!

Quanto à jovem à direita, é Rose, irmã de Luiz Carlos que empunha um violão sumamente desejado em sua vida.


Aos 18 anos quis aprender a tocar e pagou o instrumento em 12 parcelas, mas o trabalho a impediu. 

Agora, aos 42, comprou treze números da rifa e com esse investimento conseguiu abraçar um sonho antigo.

O que se percebe no CDC Cleuza Bueno é que se reúnem velhos amigos, muitos com suas companheiras...


...e ali ficam apreciando o jogo, a vista, e fazendo da vida um campo de prazer coletivo.

À época da fundação do Titânico FC, 1978, a juventude mundial lutava por suas causas.

No Brasil, o direito de se expressar livremente sob um regime de exceção, que tudo proibia.

Então, a palavra de ordem era questionar e buscar transformar o mundo em lugar melhor.

Vive-se e aprende-se. A solidariedade é o que nos vale a pena.

 Reportagem e fotos: Marco Pezão e Alai Diniz 

Do Campo Limpo ao Sintético
Poesia Sem Miséria

A Várzea é Vida
Participe!


Apoio: Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo